quinta-feira, 26 de junho de 2014

A DIFICULDADE EM LIDAR COM O DIFERENTE: PROFESSOR E ESCOLA

Professor e escola têm limitações para inserir o aluno autista no universo do calendário regular de alfabetização e atendimento precisa de preparo


As dificuldades dos professores aparecem no conflito em lidar com o diferente em se tratando do autista na sala de aula, uma atenção que exige desprendimento, atenção e muito preparo para o já atribulado cotidiano escolar.
O trabalho com autista requer muita atenção, um ambiente silencioso e não levar em conta detalhes e questões próprias do “mundo do autista” é incorrer no erro da dispersão. A mudança de rotina gera agitação e, por vezes, surtos. 
Chefe de seção da Secretaria Municipal de Educação, Márcia Magoga Cabete, é professora de educação especial. O cumprimento sistemático da rotina e o olhar individual sobre o autista na sala de aula são os apontamentos essenciais para esse aprendizado, opina.
O ruído da carteira, o barulho gerado por outro colega de classe ou o barulho do ventilador no ambiente da sala de aula podem desencadear alteração de humor ou comportamento no autista. “O educador precisa estar atento a detalhes em relação ao autista. Em uma sala de aula tivemos de colocar emborrachados embaixo de todas as carteiras e cadeiras porque o ruído da carteira no chão irritava um aluno autista”, conta.
No ensino fundamental municipal, em outro caso, a professora teve de abordar individualmente o aluno autista para seu hábito de falar alto e dar risada. “Alguns falam muito alto e dão risada com frequência. Tivemos de fazer um trabalho de conscientização específico com esses comportamento do autismo e ajustamos”, exemplifica.



Estímulos
Os estímulos ao desenvolvimento precisam ser realizados o mais cedo possível. O problema é que é comum os pais demorarem a perceber os sinais de autismo e, em outros, a rejeitar o diagnóstico de observação em casa.

“Além do pai resistir a admitir que o filho é autista, o diagnóstico médico, especializado, dificilmente sai antes dos seis anos. E quanto mais cedo o autista for estimulado em relação a sua condição mais ele terá sucesso na resposta. Os pais não podem demorar para buscar ajuda e orientação para lidar, desde cedo, com o filho autista. Isso é essencial”, reforça Cabete. 



Comunicação
Para Vera Casério, a agressividade não é o principal dificultador na relação do autista com a comunidade escolar. “O autista tem um modo próprio de se interagir com o meio e sua compreensão de cada rotina é que vai determinar sua ambientação natural ou o surgimento de estresse na relação com os demais alunos e a professora. Se ele sair da rotina ele pode manifestar agressividade”.

A educadora reforça o universo específico da linguagem do autista. “É preciso que as pessoas entendam que o autista precisa ter todas as suas atividades previamente organizadas e isso é demonstrado por um sistema de fichas para cada atividade, de ir ao banheiro a comer ou desenhar. Para essa rotina ser alterada é preciso que a professora substitua as fichas e explique isso para o autista”.
A metodologia precisa ser de tão organizada que o aluno autista precisa das fichas na ordem exata e cada mudança exige a reposição da ficha e a explicação da alteração.




A rotina e os cartões com figuras 
Batizado de PECS e desenvolvido nos EUA pelo psicólogo Andrew Bondy e pela fonoaudióloga Lori Frost, o método utiliza uma forma de linguagem prática, sistematizada e de rotina que facilita a relação com o autista.
Eles detectaram que muitas crianças com autismo tinham dificuldade com imitação, principalmente a verbal. E mesmo aquelas que eram capazes de imitar, geralmente não as usavam para se comunicar de forma espontânea.
O material utiliza cartões com figuras que representam objetos e situações que a criança utiliza para expressar aquilo que almeja. Quando isso acontece, isto é, a criança recebe aquilo que quer, faz com que o comportamento de utilizar os cartões seja instalado. A abordagem amplia o repertório comportamental do autista, servindo de instrumento de comunicação quando não se possui o comportamento verbal necessário para interagir com o ambiente.
De baixo custo, a técnica pode e deve ser revista sempre que necessário, permitindo à criança com dificuldade de comunicação interagir vem diferentes ambientes sociais.
Os pais ou professores podem construir um álbum de PECS em uma pasta-catálogo, o que facilita o manejo por parte da criança, sendo necessário apenas ter vontade de buscar e criar condições de aprendizagem.
Esse sistema foi originalmente desenvolvido para crianças com espectro do autismo em idade pré-escolar. Mas o método está sendo usado por crianças e adultos com outros diagnósticos que apresentem dificuldades com a fala e a comunicação.



Para secretária, inclusão não exclui educação especial

Para a secretária municipal de Educação, Vera Casério, o sistema de ensino regular não está preparado para atender em escala os casos de autismo. Além disso, a educadora entende que a educação especial especializada não pode ser dispensada.
“Os níveis de autismo determinam relações e sistemas de aprendizado específicos. Alguns alunos autistas frequentam a escola regular e também precisam de cuidados e frequentam a Apae em outros períodos. Para alguns níveis de autismo é necessário até um professor especializado por aluno, situação inviável no sistema tradicional. Tem criança que vai só na escola especial, para os casos mais agudos de autismo”, avalia.
Para disseminar e sistematizar a educação especial na rede, a Prefeitura de Bauru contrata profissionais com formação específica. O professor de educação especial que atua na rede municipal de ensino orienta o educador regular, o cuidador e os demais profissionais de educação.
Nas escolas municipais de Educação Infantil (EI) e Fundamental (EF) de Bauru estão matriculados 300 alunos especiais, destes sendo 30 autistas no primeiro ciclo e 10 no EF.
“A participação do autista na escola regular é fundamental no papel de socialização dessas crianças. O fundamental é que essa criança não viva o mundo do adulto e sim das crianças de sua idade. Mas para isso a escola deve estar preparada para adotar estratégias distintas para cada grau de autismo”, opina a secretária municipal de Educação, Vera Casério.    
A secretária salienta para a necessidade das unidades escolares manterem a rotina fundamentada do autista. “Eles levam em conta padrões mais rígidos de comportamento. Os autistas precisam de rotina para se adequar às atividades e os professores têm de levar à risca essa rotina de regras e relacionamento, comunicação com o autista”.
A educadora menciona que na formação acadêmica do magistério os professores não são habilitados para as especificidades do autismo. Vera Casério reconhece o desafio de realizar a inclusão do autista na sala de aula regular, mas considera que o desenvolvimento desse aluno pode ser bem sucedido se a escola estiver preparada.
FONTE: http://www.jcnet.com.br/

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