domingo, 8 de dezembro de 2013

Adultos convivem com o autismo sem saber

Pessoas que passaram anos com os sintomas do transtorno contam como é a redescoberta do mundo depois do diagnóstico tardio.

Por ADRIANA CZELUSNIAK


O autismo atinge hoje uma em cada 88 crianças e, na infância, soma mais casos que aids, câncer e diabete juntos. Entretanto, a síndrome não é restrita a meninos e meninas e boa parte dos adultos que têm autismo nem sabe disso.

São pessoas que estão na parte menos comprometida do espectro, que não têm deficiência intelectual (mais comum nos casos severos ou clássicos do autismo) e que não tiveram atraso na aquisição da linguagem. Em geral, elas costumam ficar mais isoladas, são classificadas como antissociais, muito tímidas, ingênuas, metódicas e até “frescas” – já que são mais sensíveis a barulhos, luzes e até a toques.

Sinais Confira os sintomas mais comuns do autismo em um adulto. Caso se reconheça na maioria dos sintomas, procure o atendimento de um especialista:

Interação

Tem dificuldade para compreender regras sociais subliminares, manter contato visual, entender expressões faciais que não são óbvias, dar continuidade a um diálogo e entender metáforas, ironias e piadas.

Socialização

Não demonstra ou recebe afeto com naturalidade, não costuma falar sobre seus sentimentos, não se envolve com interesses alheios, não consegue se colocar no lugar dos outros, encara a vida de forma muito objetiva, prefere falar de poucos assuntos específicos e não percebe quando os outros não estão mais interessados.

Funcionamento

Trabalha melhor sozinho do que em equipe, não tem bom desempenho em entrevistas de emprego, não costuma ter bom desempenho escolar ou na universidade especialmente por ter foco bastante restrito.

Sensibilidade

Sofre mais com barulhos incômodos, ambientes agitados, roupa de tecido não tão confortável ou comida com espessura, cheiro ou gosto diferente do que está acostumado. São frequentes outras alterações sensoriais, como hipersensibilidade a luzes e ao toque.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1359092.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Projeto Guri ensina música para crianças autistas em Sorocaba

Em Sorocaba (SP), autistas aprendem com a música a conviver melhor com os colegas e a ter mais disciplina. E para conseguir resultados cada vez melhores os professores estão se capacitando.


Nas aulas de percussão a pequena Melissa, de 8 anos, se realiza. Ela é portadora de autismo e encontrou na música uma maneira de driblar os principais sintomas da síndrome. Irritação, isolamento e hiperatividade ficam controlados e a menina até sonha em ser famosa. "Eu quero aparecer na televisão", conta Melissa Garcia.

A mãe conta que nem sempre foi assim. "Quando ela começou na percussão, eles têm muita sensibilidade com o som, eles não aguentam o som muito alto. Ela aprendeu a lidar com isso, ajudou até em outras áreas, na escola também. A música ajudou em muita coisa na vida dela", explica Gilsi Garcia.

Ela é uma dos três alunos com autismo do Projeto Guri. Aluna da Associação Amigos dos Autistas de Sorocaba (Amas), a menina frequenta o projeto de música há dois anos. O bom exemplo de Melissa encorajou Pedro. Hoje, ele consegue tocar a música preferida no clarinete. O menino de 11 anos, diagnosticado com autismo severo aos 3, encontrou na música a esperança da socialização. Aluno de clarinete há 7 meses, o garoto demonstra muita disciplina durante as aulas. "No dia de uma apresentação eu disse para ele ficar observando eu tocar e daí você tenta repetir. E ele visualmente conseguiu tocar a música inteirinha e a apresentação foi um sucesso", lembra Flávio Batista de Souza Júnior, professor.

O Projeto Guri é um programa do governo do estado ensina música a crianças e jovens. Diante de tanto sucesso nos casos de Melissa e Pedro, o projeto resolveu fazer uma parceria com a Associação Amigos dos Autistas de Sorocaba. Agora, professores de música vão receber treinamento de psicólogos e psicoterapeutas para aprender a ensinar esses alunos. "A gente vai contar um pouco pra eles o que é o autismo, os principais sintomas, as características, o que é próprio de cada criança e vai ensinar eles a lidarem, principalmente, com o comportamento, que é o que mais tem dificuldade", explica a psicóloga Beatriz Azevedo Moraes.

Enquanto o treinamento não começa, os professores já se esforçam para atender os novos alunos. Rafael ensina a pequena Ana Laura, de 7 anos, a manusear os instrumentos. Também com autismo, a menina está no módulo Iniciação Musical. O professor conta que a meta é a socialização e a familiaridade com os instrumentos. "Nos primeiros dias de aula ela era uma aluna que não parava, não sentava, não pegava o instrumento, não estava inserida no grupo. A primeira meta é inserir nesse contesto e depois, vai pensar musicalmente. Hoje ela já senta, já interage com os amigos, então isso já é uma conquista", analisa Rafael Valin.

Para as mães, o alívio depois do diagnóstico de um transtorno que afeta tanto o comportamento das crianças. "No começo, muitas vezes eu ia embora chorando, queria desistir e a escola nunca deixou. E graças a Deus hoje eu vejo como foi bom não ter desistido porque a minha filha cresceu muito e a gente chora de alegria", relata Gisli Garcia.

E tantos avanços no tratamento dessas crianças têm uma explicação. Segundo a musicoterapeuta Mara Magalhães, a música ajuda a desenvolver comportamentos afetados pelo transtorno. "Ela estimula a linguagem, estimula o campo emocional, o contato social. Então através do som, do movimento, você consegue mobilizar a mente, a emoção e o contato entre as pessoas".

Resultados que nem precisam de comprovação científica. Na alegria das três crianças dá para ver que a parceria do Amas com o Projeto Guri vai dar certo.




Mães de crianças com autismo cobram políticas públicas

Grupo de mães de crianças com autismo cobra criação de políticas públicas nas áreas de educação e saúde

Mães de crianças com autismo e profissionais que atuam diretamente com pacientes que têm a doença se reuniram, na manhã de ontem, na sede da Defensoria Pública Geral do Ceará. Foram discutidas soluções que minimizem o sofrimento das famílias de baixa renda que têm dificuldade de custear o tratamento para crianças portadoras do transtorno de desenvolvimento global.

Há cerca de três anos, um grupo de mães de crianças com autismo procurou o Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas da Defensoria em busca de ajuda para o problema. As principais reclamações são o alto custo dos tratamentos - que requerem acompanhamento de fonoaudiólogo, neurologista, psicólogo, entre outros profissionais - e a dificuldade de encontrar escolas, tanto na rede pública como na particular, que sejam preparadas para receber crianças com esse distúrbio.

Durante a audiência, a sub-defensora pública geral do Estado, Angélica Bezerra, afirmou que são necessárias medidas que priorizem a inclusão social e a criação de políticas públicas em favor dessas crianças e de suas famílias. “Acho que nós podemos e devemos ajudar essas pessoas. Estamos primeiro ouvindo os problemas, para depois darmos início à discussão de quais medidas serão tomadas”, explica.

Para o defensor público do Núcleo Especializado de Defesa da Infância e Juventude da Defensoria Pública, Alfredo Homsi, o autismo é um transtorno global de desenvolvimento ainda pouco conhecido na sociedade. Ele afirma que o tratamento da doença pode ser feito no Sistema Único de Saúde (SUS), mas admite que as condições de tratamento ainda são tímidas, por causa da falta de recursos. “Isso dificulta muito a vida dessas famílias, porque elas têm que tirar do próprio bolso e isso sai caro”, afirma o defensor.

Segundo Afonso, a ideia, a partir de agora, é elaborar ideias e iniciativas para solucionar esse problema extrajudicialmente, e, caso não haja solução, procurar auxílio judicial para o caso.

Lei
Em dezembro do ano passado, foi aprovada a Lei 12.764, pela presidente Dilma Rousseff, que estabelece os direitos dos autistas. A lei determina alguns direitos dos portadores da deficiência, como o acesso a ações e serviços de saúde. Além disso, fica estabelecido que as pessoas diagnosticadas com a doença devem ter direito a um acompanhante especializado, caso incluída nas classes comuns de ensino regular .

sábado, 30 de novembro de 2013

Educação Física e Autismo

A prática esportiva e as atividades motoras se apresentam como forma de estimular o desenvolvimento e a socialização de crianças e adolescentes autistas.


Numa academia do Rio de Janeiro, crianças se divertem durante a sessão de ginástica artística do Profissional de Educação Física Rodrigo Brívio (CREF 017431- G/RJ). Esses meninos e meninas, com idades entre três e 15 anos, desviam de cones colocados em cima da trave, saltam em bambolês dispostos no tatame, pulam e cantam na cama elástica. Crianças muito diferentes entre si, mas com um diagnóstico em comum: o autismo.


Tudo começou há quase quatro anos, quando um aluno autista se inscreveu na academia e foi encaminhado a Rodrigo, que já havia trabalhado com Educação Física Especial. “Eu comecei com o Vítor. Aí a mãe dele chamou outra mãe, que chamou outra mãe, que chamou outra...”, conta Brívio, que, a partir desse primeiro aluno, foi recebendo mais outros, vindos por indicação não só de pais, mas também de profissionais da área médica. Só com a propaganda boca-a-boca (“Eu não tenho cartão de visita, nada”), o número de crianças atendidas pulou para 30 – e ainda há uma lista de espera.


As sessões de ginástica artística estimulam o contato físico e fazem com que as crianças desenvolvam sua motricidade e formas de se comunicar, através de palmas ou gestos – algumas até mesmo ensaiam suas primeiras palavras. “Os autistas são muito resistentes ao toque. E o Rodrigo, com essa brincadeira, essa interação, consegue se aproximar e quebrar essa barreira”, conta Marcos Callipo, pai de uma das crianças atendidas pelo profissional. Ele aponta outro ganho que a atividade traz para os praticantes. “No autismo, você tem que, a todo o momento, impor limites. E com essas atividades, o Rodrigo vai aos poucos conseguindo impor esse limite. Em um mês já dá pra ver bastante resultado”, atesta.


A empolgação desses pais com os resultados obtidos pela ginástica artística pode ser conferida pela própria taxa de evasão, próxima a zero. “Perdi apenas um aluno, de três anos e meio pra cá. As crianças não saem daqui. Não saem”, frisa Rodrigo.



Em Alagoas, atividades motoras para autistas


Subindo um pouco no mapa do Brasil, mais especificamente indo para a Universidade Federal de Alagoas, conhecemos outro projeto que usa a Educação Física para desenvolver as potencialidades de crianças e adolescentes autistas e, de quebra, contribuir na formação de profissionais de Educação Física aptos a lidar com indivíduos com autismo. A prof. Chrystiane Toscano (CREF 000444-G/SE) coordena o Projeto de Extensão em Atividades Motoras dirigidas a Crianças e Adolescentes com Autismo (Premaut) que, com apenas dois anos, já realizou um Seminário sobre o tema em abril deste ano. O auditório lotado e a grande participação de profissionais de Educação Física e de Pedagogia mostram que há um grande interesse em saber como trabalhar com esse público.


O Premaut foi criado por Chrystiane em 2009, a partir de uma demanda identificada durante visitas realizadas a instituições que prestam atendimento a esse público. Ela percebeu que esses locais não tinham profissionais de Educação Física dentro da equipe psicoterapêutica e, mesmo quando havia o profissional, este expressava a necessidade de uma formação exclusiva para atender ao público autista. Com esse diagnóstico em mãos e a experiência que já possuía na área, Chrystiane iniciou um grupo e estudos na UFAL que pudesse responder às lacunas do atendimento aos indivíduos com autismo. “Creio que existem, em todo país, poucos profissionais com formação adequada para desenvolver projetos que possam atender às especificidades da pessoa com autismo. Acredito que a universidade, assim como outras instituições formadoras, tem esta responsabilidade social. Eu, particularmente, estou fazendo a minha [parte]”, conta.


O Projeto começou com dez crianças, com idades entre oito e 12 anos. Em 2010, a pedido dos Centros de Atenção Psicossocial Infantil de Maceió, o Premaut ampliou a ação e passou a atender também oito adolescentes com autismo. Hoje, o grupo é composto por oito crianças e cinco adolescentes – de acordo com Chrystiane, a saída de alguns deles teve como causas a dificuldade de transporte ou a necessidade de frequentar escolas especializadas no horário das atividades do projeto, que acontecem às terças e quintas, das 14h30 às 16h.

Na interação com as crianças e adolescentes autistas, a equipe do Premaut tem observado que é preciso fazer ajustes de metodologia para auxiliá-los na aprendizagem motora. “A fórmula ‘desenvolvimento normal em ritmo desacelerado’ não se aplica à pessoa com autismo. Em nosso projeto temos encontrado, a partir da utilização de instrumentos de avaliação de desenvolvimento motor, que as pessoas com autismo modificam seus padrões motores em diferentes velocidades”, relata.

Observação e persistência


Para atender não só a autistas, mas a qualquer público com necessidades específicas, todos sabemos que o Profissional de Educação Física tem que se informar a fundo sobre seus sintomas e suas limitações. No caso do autismo, os portadores do transtorno podem apresentar afetação qualitativa nas suas relações sociais, alterações da comunicação e da linguagem, falta de flexibilidade mental e comportamental.


Mas, para Chrystiane Toscano, só esse conhecimento não basta. O Profissional deve levar em conta, também, todo o contexto social em que a criança ou o adolescente está inserido, ou seja: a observação é fundamental. “Conhecer sua história de vida e identificar quais são as suas possibilidades e dificuldades reais de interação com o meio me conduz à projeção de seleções de procedimentos mais legítimos”, explica.


Rodrigo Brívio acrescenta outra qualidade que o profissional de Educação Física deve ter para trabalhar com autistas. “Além do conhecimento, tem que ter persistência. Você sabe da capacidade daquele aluno, vê que somente ele é capaz de fazer aquele determinado exercício e ele não faz, e eu não sei explicar porque ele não quer fazer. Você tem que persistir naquilo que acredita que realmente vai dar certo”.


Ele também alerta para que o profissional tenha preparo emocional a fim de poder conviver com todas as dificuldades que os autistas enfrentam no seu cotidiano, pois o envolvimento é inevitável. “Não adianta dizer que vai ser só alegria, que vai vir pra cá e fazer um trabalho bonito, não é bem assim. Você conquista coisas junto, sofre junto com aquele aluno por questões da escola: a dificuldade dessas crianças com a escola é muito grande, é uma batalha a cada dia. Então não é “fiz aqui os 35 minutos, acabou e tchau”. Não é isso. O envolvimento emocional é muito grande” .


Educação de Crianças Autistas



Inicialmente, o termo autismo foi implantado por Bleuler (1911), ligado à sintomatologia abrangente que ele havia estabelecido para unificar, através da esquizofrenia, o campo das psicoses. O autismo era chamado “dissociação psíquica”, que se referia ao predomínio da emoção sobre a percepção da realidade.


Ao longo das décadas de 70 e 80, o autismo passa a ser visto, predominantemente, como um distúrbio cognitivo. Nessa época, ele deixa de ser considerado como uma condição envolvendo basicamente retraimento social e emocional, e passa a ser concebido como um transtorno do desenvolvimento envolvendo déficits cognitivos severos com origem em alguma forma de disfunção cerebral.


O autismo não  é considerado, hoje, um estado mental fixo, irreversível e imutável, mas o resultado de um processo que pode, ao menos em parte, ser modificado por meio de intervenções terapêuticas. Ele não pode ser causado por fatores emocionais e/ou psicológicas. As evidências apontam para a multicausalidade. Descobertas recentes apontam a possibilidade de o autismo ser causado por uma interação gene-ambiente.

As crianças autistas têm um repertório muito limitado de comportamento, ou seja, fazem realmente poucas coisas. Isso sem dúvida é um dos motivos que leva as dificuldades de aprendizagem. Algumas delas são:
  • Dificuldade de atenção: algumas crianças são incapazes de se concentrar, mesmo por poucos segundos. Para superar esta dificuldade, é necessário planejar situações de ensino estruturadas, dividindo em pequenos passos e metas o que elas devem aprender. Também possuem dificuldades em reconhecer a relação espaço-temporal entre acontecimentos que se inscrevem dentro da mesma modalidade sensorial.
  • Dificuldades de raciocínio: muitas vezes elas aprendem mecanicamente, sem compreender a essência ou significado do que queremos que aprendam. O planejamento de tarefas pode evitar essa mecanização, acentuando o que realmente é significativo para elas.
  • Dificuldade de aceitação dos erros: frequentemente deixam de responder às chamadas de atenção e ordens, baixando o nível de atenção. Dessa forma, a aprendizagem não se produz. Para que isso não ocorra é preciso habituá-los a adaptarem-se a situações cada vez menos gratificantes.
Algumas estratégias podem ser utilizadas no dia-a-dia para solucionar esses problemas, tais como: criar situações de faz-de-conta que despertem o interesse da criança; usar bonecos para representar a família; criar soluções simbólicas para ajudar a resolver os problemas; encorajar a investigar pistas e sinais; e modelar/mediar uma sequência do que se deve fazer; introduzir palavras que a criança se interesse para que, posteriormente, ela possa construir frases com elas.
Os educadores devem desenvolver um programa de educação individualizado para focalizar nos problemas específicos da criança. Isto inclui terapia de fala e do idioma, e também habilidades sociais e treinamento de habilidades cotidianas. Eles devem elaborar estratégias para que essas crianças consigam desenvolver capacidades de poderem se integrar com as outras crianças ditas “normais”.

Referências:
BAUTISTA, Rafael. Necessidades Educativas Especiais. 2ª edição. São Paulo: Dinalivro, 1997.
BERQUEZ, G. O autismo infantil e Kanner. In: LEBOVICI, S.; MAZET, P. Autismo e psicoses da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Dica de Leitura




Esta obra sobre os cuidados com a criança autista é um recurso ideal para as famílias e também para os profissionais que trabalham com eles. Em linguagem clara e simples, os autores explicam a natureza dessa condição e suas variações, e abordam problemas comuns vivenciados em atividades do cotidiano como comer, dormir e ir ao banheiro. Além disso, sugerem estratégias para lidar com crises repentinas de raiva ou mau humor, e apresentam alternativas para melhorar as aptidões sociais e de comunicação. 
Com base em pesquisas atuais e muitos exemplos de casos, os autores analisam, passo a passo, cada problema e suas causas, propondo várias soluções.

Sobre os autores

Chris Williams
 é psicóloga clínica infantil e consultora.
Barry Wright é psiquiatra infantil e de adolescentes e também consultor. 

Ambos trabalham no NHS em York. Atuam em sua profissão e trabalham com crianças portadoras de transtornos do espectro do autismo e suas famílias há mais de 10 anos. Trabalham em conjunto com uma equipe multidisciplinar na avaliação, diagnóstico e intervenção, e lidam com crianças e jovens da primeira infância ao início da vida adulta portadores de autismo em vários graus. Gostam, sobretudo, de desenvolver e usar uma faixa abrangente de intervenções para apoiar as famílias nesse processo e ajudar seus pacientes a solidificarem seus pontos fortes. 

SUMÁRIO

Parte 1 
Meu filho tem distúrbio do espectro do autismo?
1. Primeiras preocupações
2. Avaliação
3. O impacto emocional sobre a família

Parte 2 
Como as crianças portadoras de distúrbios do espectro do autismo vêem o mundo?
4. Cegueira mental
5. Entendendo a essência 
6. Interesses sensoriais e sensibilidades
7. Imaginação, percepção temporal, planejamento e memória
8. Linguagem

Parte 3 
Como podemos ajudar?
9. Controle do o comportamento
10. Desenvolver aptidões sociais
11. Desenvolvimento de aptidões sociais
12. Birra, agressão e frustração
13. Alimentação
14. Aprendendo a usar o banheiro
15. Defecar em locais impróprios
16. Sono
17. Preocupações
18. Compulsões, rotinas e rituais
19. Maneirismos e movimentos repetidos
20. Outras intervenções 
21. Considerações finais



quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Autismo pode ser identificado nos primeiros meses de vida, diz estudo
Helen Briggs
Da BBC News
Atualizado em  8 de novembro, 2013 - 06:40 (Brasília) 08:40 GMT
Criança saudável passa por teste para detectar autismo
Uma pesquisa conduzida por cientistas americanos sugere que o autismo, disfunção que afeta a capacidade de socialização do indivíduo, pode ser identificado em bebês com até dois meses de vida.
Os estudiosos analisaram o olhar das crianças, do nascimento até os três anos, em direção aos rostos de outras pessoas .
Eles descobriram que as crianças posteriormente diagnosticadas com autismo mantinham, um contato visual reduzido – uma das marcas do transtorno – nos primeiros meses de vida.
A pesquisa, publicada na Nature, aumentou as esperanças de que o autismo seja tratado mais precocemente, afirmou um cientista britânico.
No estudo, pesquisadores liderados pela Escola de Medicina da Emory University em Atlanta, nos Estados Unidos, usaram uma tecnologia de rastreamento visual para medir a forma como os bebês olhavam e respondiam a estímulos sociais.
Eles concluíram que as crianças posteriormente diagnosticadas com autismo mostraram um declínio gradativo na capacidade de manter um contato visual constante com os olhos de outras pessoas a partir da idade de dois meses, quando começaram a assistir vídeos de interações humanas.
O coordenador da pesquisa, Warren Jones, disse à BBC News que foi a primeira vez que "foi possível detectar alguns sinais de autismo nos primeiros meses de vida".
"Estes são os primeiros sinais de autismo já observados".
Metodologia
O estudo acompanhou 59 crianças que tinham um alto risco de autismo por terem irmãos com a doença, e 51 crianças de baixo risco.
Teste comprovou declínio gradativo de contato visual em crianças autistas nos primeiros meses de vida
Jones e seu colega Ami Klin examinaram as crianças até completarem três anos, quando as crianças voltaram a ser formalmente avaliadas quanto à doença.
Treze das crianças (11 meninos e duas meninas) foram diagnosticadas com transtornos do espectro do autismo - uma série de distúrbios que inclui o autismo e síndrome de Asperger.
Os pesquisadores, então, voltaram a observar os dados de rastreamento ocular dos pacientes e fizeram uma descoberta surpreendente.
"Em crianças com autismo, o contato visual já está em declínio nos primeiros seis meses de vida", disse Jones.
Jones acrescentou, entretanto, que tal quadro só pode ser observado com tecnologia sofisticada e não seria visível para os pais.
Para Deborah Riby, do departamento de psicologia da Universidade de Durham, o estudo proporcionou uma análise sobre o tempo de atenção social, atípica em crianças que tendem a desenvolver autismo.
"Esses marcadores precoces são extremamente importantes para identificar brevemente os primeiros traços de autismo. Dessa forma, temos a capacidade de aprimorar o tratamento", disse Riby.
Mais pesquisas
Entenda o autismo
O autismo e a Síndrome de Asperger fazem parte de uma série de transtornos conhecidos como desordens do espectro autista (DEA).
Elas surgem na infância e permanecem durante toda a idade adulta.
O transtorno é marcado por três características principais, incluindo a inabilidade para interagir socialmente, dificuldade no domínio da linguagem para comunicar-se ou lidar com jogos simbólicos e padrão de comportamento restritivo e repetitivo.
Caroline Hattersley, diretora de informação, aconselhamento e apoio da National Autistic Society, baseada no Reino Unido, disse que a pesquisa foi "baseada em uma amostra muito pequena e precisa ser replicada em uma escala muito maior antes de podermos tirar quaisquer conclusões concretas".
"O autismo é um transtorno muito complexo", disse.
"Não há duas pessoas com autismo que são iguais, e por isso é necessária uma abordagem holística para o diagnóstico, que leve em conta todos os aspectos do comportamento de um indivíduo. Uma abordagem mais abrangente permite que todas as necessidades do pacientes sejam identificadas".
"É vital que todas as pessoas com autismo possam ter acesso a um diagnóstico, pois isso pode ser a chave para uma recuperação mais rápida", concluiu.
A pesquisa foi feita em parceria com o Marcus Autism Center e o Children's Healthcare of Atlanta.
·          
o    Contate a BBC
BC © 2013


terça-feira, 17 de setembro de 2013

ALGUMAS IDÉIAS

INDEPENDÊNCIA: CONCEITO DE VESTIR

JOGO DAS FRUTAS E LEGUMES


FECHAR E ABRIR

COORDENAÇÃO MOTORA FINA: COLOCAR OS SALGADINHOS NO MACARRÃO

SACOS TÁTEIS: SENSORIAL

CORES E COORDENAÇÃO MOTORA




sábado, 10 de agosto de 2013


Gente mais uma super dica
Coleção voltada para pessoa com autismo para alfabetização
Visite o site:www.atelierestruturado.com.br

domingo, 14 de julho de 2013

FILME COMPLETPO: after thomas - um amigo inesperado

BASEADO EM FATOS REAIS.
FILME MUITO BOM.RECOMENDAMOS. RETRATA A INFLUÊNCIA DA ZOOTERAPIA NO TRATAMENTO E NA EVOLUÇÃO DE CRIANÇAS NO ESPECTRO AUTISTA.






kyle Gram é um menino frágil que sofre de autismo. Seus pais fazem de tudo para tentar se comunicar com ele, até que um cachorro chamado Thomas consegue criar uma relação com o menino que o ajudará a escapar do seu silêncio.Baseado em uma história real.

ALGUMAS COISAS QUE TODO PAI E MÃE DE AUTISTA GOSTARIA QUE VOCÊ SOUBESSE:

Sempre que leio o texto  “Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse” de autoria de Ellen Notbohn (do livro Ten Things Every Child with Autism Wishes You Knew: 2005), me emociono e fico pensando em como seria se pudéssemos listar também tudo aquilo que gostaríamos que as pessoas soubessem sobre nós, nossos filhos, nosso cotidiano e suas dificuldades.
Desta forma, listei algumas regras de ouro, “mandamentos” que, talvez, se as pessoas tivessem conhecimento, tornariam nossas vidas um pouquinho mais tranquilas.
Espero que vocês gostem e gostaria de contar com a participação de todas vocês, enviando a sua sugestão para acrescentarmos à nossa lista, ok?
1- Amo meu filho incondicionalmente, mais do que minha própria vida;
2- Eu e meu filho NÃO precisamos de sua piedade , precisamos de sua compreensão;
3- Tenho verdadeiro horror e repugnância a olhares tortos, enviesados e caras feias. Não temos nada a ver com sua intolerância, ignorância ou muito menos com seu preconceito;
4- Não trate meu filho como um ser inferior;
5- NUNCA faça perguntas do tipo:” ah, mas ele ainda não faz tal coisa? O MEU filho com este idade já fazia”. Provavelmente, na sua idade, Bill Gates já havia amealhado seus primeiros milhões, enquanto você ainda conta seus reais; NINGUÉM gosta e nem deve ser comparado!
6- Se você quer minha amizade ou, ainda, não quer que eu me transforme em uma leoa, JAMAIS maltrate, destrate ou faça meu filho alvo de bullying;
7- Não trate meu filho como um ser inanimado. Autistas TÊM sentimentos! Atitudes e palavras inadequadas podem feri-lo e magoá-lo e você incorrerá no item 6 (despertando meu lado leoa ).
8- Se você é membro da família ou um amigo muito próximo , ESCUTE e ACEITE minhas orientações sobre como agir com meu filho. Sei o suficiente sobre o funcionamento de pessoas com TEA, enquanto, provavelmente, você não faz a mínima ideia sobre o assunto (salvo raríssimas exceções);
9- O item número 9 também é dedicado aos membros da família: NÃO insista na ladainha “mas esta criança não tem nada, isso é coisa da sua cabeça, o “Fulano” fazia a mesma coisa quando era pequeno e hoje está ótimo!”. Comentários como estes somente me exasperam e me cansam, não contribuem em nada;
10- Este item se aplica a tudo, a todos e a todas as situações e momentos de nossas vidas. Se você não tiver um comentário positivo a acrescentar, opte pelo silêncio. “Falar menos e ouvir mais” é uma das regrinhas de OURO da cartilha do bem viver. Justamente por este motivo, o Criador nos fez com dois ouvidos e uma só boca;
11- Eu PRECISO de ajuda em inúmeros momentos e sua contribuição sincera e bem intencionada será bem vinda. Se não souber como ajudar, experimente apenas me OUVIR. Desabafar, muitas vezes, me ajuda a organizar minhas ideias e me proporciona o afastamento necessário da situação para que eu possa dimensioná-la corretamente;
12- Jamais minimize ou compare minha situação. Saber que outros têm problemas maiores ou menores que os meus não torna minha vida mais fácil;
13- NÃO critique minhas atitudes e muito menos ouse julgar meus sentimentos. Você jamais saberia o que fazer em meu lugar, pois é praticamente impossível que saibamos o que fazer sem estarmos diretamente envolvidos na situação;
14- Vou lutar até meu último suspiro buscando melhor qualidade de vida para meu filho;
15- Sim, por mais que lhe cause estranheza, eu comemoro “pequenas” (aos seus olhos !) GRANDES ( em minha opinião !) conquistas de meu filho. O que para a grande maioria das pessoas é comum e corriqueiro, para mim é uma VITÓRIA e um MILAGRE. Cada nova palavra, cada gesto ou até mesmo um olhar compartilhado são valiosos demais para mim.
16- Você não é obrigado a conhecer tudo sobre Autismo e eu NÃO tenho esta pretensão. É fato que ninguém sabe tudo sobre todas as coisas. Mas tenho direito de exigir: RESPEITO e DIGNIDADE e não abrirei mão de fazê-lo pelo meu filho;
17- Se você pensa que autistas não têm voz, é porque você não conhece a força do GRITO das mães de autistas e do que somos capazes de fazer por nossos filhos.
Denise Aragão 

PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO?

PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO ?
Mônica Accioly


Os pais das crianças com autismo geralmente são responsabilizados pelos “ataques de birra” de seus filhos. As pessoas não entendem as reações das crianças e culpam os pais por não “darem limites” a seus filhos.

Como estamos acostumados a manter o controle nos ambientes que freqüentamos, ninguém imagina como o cérebro de uma criança pode entrar em “sobrecarga” (palavra muito usada pelos próprios autistas para descreverem o que sentem). Elas freqüentemente não conseguem filtrar os estímulos que as cercam (auditivos, visuais e táteis) e sentem como se todos os atingissem ao mesmo tempo, com a mesma intensidade. 
Para nós, a adaptação e a “filtragem” dos estímulos é automática.

Escolhemos aquele estímulo que mais nos interessa numa situação (a voz de uma pessoa, por exemplo) e, automaticamente, os outros ficam em segundo plano. No autismo não é assim. A criança não consegue fazer isso automaticamente. O seu cérebro fica confuso devido a entrada de vários estímulos ao mesmo tempo e ocorre a sobrecarga.

Muitos dos problemas de comportamento apresentados por essas crianças, deve-se a um colapso no controle dessa filtragem de estímulos. Portanto, quando seu filho tiver uma “crise de birra”, primeiramente observe:

1 - Avalie a situação em que ocorre o problema de comportamento. Lembre-se dos diversos estímulos (excesso de luzes, sons, vozes, multidão, toque, mudanças na rotina, imprevistos, situações novas ou desagradáveis, etc) que “sobrecarregam” os sistemas sensoriais da criança com autismo.

2 – Quando as crianças têm um sorriso no rosto, podem cooperar e prestar atenção. Mas quando estão cansados, confusos, frustrados, ansiosos, podem entrar em devastadora “sobrecarga de sensações”.

3 – A maioria das crianças “sinaliza” sua ansiedade de alguma forma. Talvez se torna agitada e, neste caso, essa agitação deve ser interpretada como comunicação : “Salve-me antes que eu perca o controle”.

4 – A dificuldade em comunicar algo ou pedir ajuda pode levar a um estado de frustração.
5 – Eles não gostam de perder o controle. Essas reações não são planejadas, são reações, isto é, a criança reage a algo que a incomoda ao extremo. Ao extremo dela perder o controle!

6 – Quem mais sofre nestas situações é a própria criança. Para ela, é difícil “voltar” depois que ultrapassou o próprio limite de “sobrecarga”.

7 – Você pode ajudar a criança a “voltar”.



PARA EVITAR QUE AS CRISES DE BIRRA OCORRAM, LEMBRE-SE :

A – A criança com autismo pode não generalizar uma regra. Talvez ela se comporte em casa mas não na escola, ou ao contrário. Pode aprender a se comportar numa situação, num determinado ambiente, mas para se comportar num outro ambiente, vai ter que aprender
novamente. Cada vez é a primeira vez. É preciso sempre lembrá-la de como deve se comportar.

B – Quando a criança fica sem ter o que fazer, podem ocorrer os movimentos de auto-estimulação ( que também os ajudam a lidar com uma situação nova ). Nestas ocasiões você pode oferecer a ela algo que seja mais interessante. Mas a família deve procurar preencher o tempo da criança de maneira sistemática ( usar figuras sobre a rotina diária pode ajudar).

C – Situações novas ou inesperadas também causam ansiedade. . Prepare sempre o seu filho para o que vai acontecer. Ele vai ficar mais calmo. Se você usar figuras, vai ser mais fácil ele entender, principalmente se ele perceber que depois de uma situação difícil (ida ao médico ou a o dentista, por exemplo), ele vai poder descansar ou fazer algo que gosta.

D – Criticar , provocar, insistir que uma recusa da criança é “bobagem”, é contra-produtivo e piora as coisas. Respeite os limites do seu filho. Lembre-se de que você pode estar forçando limites de tolerância sensoriais ou emocionais. Ele pode, sim, se acostumar a algumas situações que a princípio são difíceis para ele, mas para isso precisará de tempo e paciência.

CASO AS CRISES OCORRAM :

Seu filho não sabe o que fazer para “voltar” ( lembra-se que ele perdeu o controle?) nem o que fazer para se corrigir.

Ele precisa que você não perca o controle!

Ajude-o falando baixo, com voz suave e calma, repetindo uma palavra que ele entenda, cantarolando uma música que ele goste, ou descrevendo seu lugar predileto.

Se ele estiver, por exemplo, batendo a cabeça contra a parede, diga “parado” e repita várias vezes com voz tranqüila, ajudando-o , gentilmente, a parar o movimento (apenas se ele é uma criança que aceita bem ser tocado). Se ele estiver gritando, diga “calado” ou “feche a boca”. Se estiver batendo em alguém ou nele mesmo, você pode dizer “mãos prá baixo”.

Você ainda pode ajudar falando das coisas que ele gosta de fazer, por exemplo, “balanço” ou “praia” . Músicas também ajudam. Mas não esqueça de falar devagar, baixo e manter sua tranqüilidade. Com o tempo, você vai ver que ele vai fazer isso sozinho.

Outra opção é dar a ele um ritmo. Se ele às vezes usa um movimento repetitivo qualquer para se acalmar, você pode tentar tocar levemente em seu ombro, em toques repetitivos e ritmados. O ritmo conhecido é seguro e calmante.

Lembre-se que o seu filho não entende porquê você fica “zangado” e, se for tratado com agressividade, REFLETIRÁ (como num espelho) essa atitude. Ele percebe melhor as emoções do que as palavras ou ações dos outros. Quanto mais você “zangar’ com ele, mais seu comportamento se tornará difícil. Portanto, é importante amá-lo quando falar com ele.

Finalmente : As crianças com autismo são antes de tudo ... crianças! E haverá momentos em que estarão tendo comportamentos característicos da idade ou do seu temperamento. Nestes momentos o “velho” castigo funciona bem, desde que a criança entenda o que está acontecendo. Se não, será inútil. Cabe então aos pais analisarem cada situação (em caso de dúvida, volte ao ítem 1).


Abaixo, trechos extraídos e traduzidos do livro “Somebody Somewhere” de autoria de Donna Williams (autista, formação universitária) que ilustram e explicam os transtornos causados pelo distúrbio sensorial, o que ela mesma chama de “inferno sensorial”:

“Dentro do meu armário escuro, os tecidos balançavam na minha frente. A segurança da minha querida escuridão. Ali, o bombardeamento das luzes e das cores berrantes, os movimentos e o blá-blá-blá , o barulho imprevisível e o toque incontrolável das pessoas, não existiam.

Ali era um mundo seguro, onde as coisas estariam sob controle até que eu tivesse me acalmado o suficiente para pensar ou sentir algo. Eu tocava o tecido na minha frente, corria minha mão sobre a superfície sedosa dos sapatos de couro aos meus pés. Eu os pegava e passava no meu rosto. Ali, não havia a última gota que me levaria da sobrecarga ao fechamento.”

...................................................

“ A menininha gritava e se balançava , com os braços prá cima tampando os ouvidos para manter os ruídos distantes, e com os olhos cruzados para bloquear o bombardeamento dos ruídos visuais. Eu olhava aquelas pessoas e desejava que soubessem o significado de inferno sensorial.”

....................................................

“Ela prendeu a respiração, começou a ranger os dentes ritmicamente, endureceu como uma rocha, e continuou tentando bater nela própria, mesmo tendo as mãos seguras para baixo.

“Ela tem outra coisa prá comer?” perguntei. “Ela trouxe sanduiche”, disse a auxiliar, “mas não sabe comer sozinha”. “Posso ajudar?” perguntei.
Ficaram agradecidas. As funcionárias se ocuparam das outras crianças ao redor da mesa. Eu sentei num banco ao lado de Jody. O sanduiche dela estava embrulhado em plástico, na sua frente.

Comecei a cantarolar gentilmente. A melodia era curta, rítmica e hipnótica. Eu a repeti muitas e muitas vezes. Jody , junto a mim, fixava o nada. Ela prendia a respiração, se balançava e rangia os dentes.

Permaneci cantarolando até que ela parou de ranger os dentes. Eu continuei, repetindo a melodia muitas e muitas vezes. Comecei a tocar levemente em seu ombro, acompanhando o ritmo da música, que não mudava, sempre contínuo e previsível. Jody parou de se agredir.

As mãos dela estavam agora livres e Jody podia usá-las. Alcançou o sanduiche, rasgou a embalagem e enfiou a cara nele. Jody talvez não fosse muito elegante para comer, mas ao menos estava independente e pode se alimentar sozinha.”

...........................................................

“Donna, venha dizer oi ao Eric”, disse minha mãe.

Instantaneamente, um fogo me consumiu e minha cabeça foi em direção ao estômago de Eric, enquanto meus pés corriam a toda velocidade a seu encontro . Eu era um trem a vapor de treze anos . Ele saiu da frente no último instante para evitar a cabeçada. Minha cabeça bateu na parede e eu vi estrelas antes de apagar.

“Ela é maluca” explicou minha mãe pela enésima vez.

Eu não podia evitar. Eu havia sentido emoções.”

......................................................

“Eu estava exausta de ter minha atenção vagando por todos os objetos luminosos ou coloridos, seguindo todos os padrões e formas, e a vibração do som ressoando nas paredes.

Eu costumava amar tudo isso. Era o que me salvava e me afastava do mundo incompreensível, quando eu já havia desistido de encontrar o sentido de tudo. Meus sentidos então, paravam de me torturar e diminuíam de sobrecarregados para um nível divertido, seguro e hipnóticamente hiper. Este era o lado bonito do autismo. Este era o santuário da prisão.”

..........................................................

“Eu sentei sobre o meu tapete vermelho, meus braços a minha volta, e esperei pelo impacto. Após vinte e seis anos aprendi que não era a morte que se avizinhava, mas emoções.

Qual? Qual? gritava um impulso mudo dentro de mim. Se ao menos eu pudesse nomear esses monstros , ligá-los aos lugares e rostos de onde eles tinham vindo, eu me libertaria.
O monstro estava de volta.
...
Toda vez era como se fosse para sempre, um tiket só de ida para o inferno. Não havia lembranças de que sempre havia um retorno.
...
Meu corpo tremia como um terremoto, meus dentes se chocavam como o som de uma datilógrafa atacando as teclas de uma máquina de escrever. Cada músculo tão tenso como se fossem espremer toda a vida de dentro de mim. E relaxavam apenas para que eu fosse atacada muitas e muitas vezes por um maremoto. Um grito subiu até minha garganta mas foi estrangulado e explodiu num grito silencioso, interno. Respire, vinha o pensamento a cada intervalo. Eu respirava profundamente, ritmicamente. Eu estava escapando.

..........................................................

Referências :

Ray’s Autism Page : http://web.syr.edu/~rjkopp/autism.html

Paris’ Place : www.accessin.com.au/~paris/autism/faq1.htm

“Somebody Somewhere” – Donna Willians

FONTE:

http://maoamigaong.trix.net/problemascomport.htm