segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Projeto Guri ensina música para crianças autistas em Sorocaba

Em Sorocaba (SP), autistas aprendem com a música a conviver melhor com os colegas e a ter mais disciplina. E para conseguir resultados cada vez melhores os professores estão se capacitando.


Nas aulas de percussão a pequena Melissa, de 8 anos, se realiza. Ela é portadora de autismo e encontrou na música uma maneira de driblar os principais sintomas da síndrome. Irritação, isolamento e hiperatividade ficam controlados e a menina até sonha em ser famosa. "Eu quero aparecer na televisão", conta Melissa Garcia.

A mãe conta que nem sempre foi assim. "Quando ela começou na percussão, eles têm muita sensibilidade com o som, eles não aguentam o som muito alto. Ela aprendeu a lidar com isso, ajudou até em outras áreas, na escola também. A música ajudou em muita coisa na vida dela", explica Gilsi Garcia.

Ela é uma dos três alunos com autismo do Projeto Guri. Aluna da Associação Amigos dos Autistas de Sorocaba (Amas), a menina frequenta o projeto de música há dois anos. O bom exemplo de Melissa encorajou Pedro. Hoje, ele consegue tocar a música preferida no clarinete. O menino de 11 anos, diagnosticado com autismo severo aos 3, encontrou na música a esperança da socialização. Aluno de clarinete há 7 meses, o garoto demonstra muita disciplina durante as aulas. "No dia de uma apresentação eu disse para ele ficar observando eu tocar e daí você tenta repetir. E ele visualmente conseguiu tocar a música inteirinha e a apresentação foi um sucesso", lembra Flávio Batista de Souza Júnior, professor.

O Projeto Guri é um programa do governo do estado ensina música a crianças e jovens. Diante de tanto sucesso nos casos de Melissa e Pedro, o projeto resolveu fazer uma parceria com a Associação Amigos dos Autistas de Sorocaba. Agora, professores de música vão receber treinamento de psicólogos e psicoterapeutas para aprender a ensinar esses alunos. "A gente vai contar um pouco pra eles o que é o autismo, os principais sintomas, as características, o que é próprio de cada criança e vai ensinar eles a lidarem, principalmente, com o comportamento, que é o que mais tem dificuldade", explica a psicóloga Beatriz Azevedo Moraes.

Enquanto o treinamento não começa, os professores já se esforçam para atender os novos alunos. Rafael ensina a pequena Ana Laura, de 7 anos, a manusear os instrumentos. Também com autismo, a menina está no módulo Iniciação Musical. O professor conta que a meta é a socialização e a familiaridade com os instrumentos. "Nos primeiros dias de aula ela era uma aluna que não parava, não sentava, não pegava o instrumento, não estava inserida no grupo. A primeira meta é inserir nesse contesto e depois, vai pensar musicalmente. Hoje ela já senta, já interage com os amigos, então isso já é uma conquista", analisa Rafael Valin.

Para as mães, o alívio depois do diagnóstico de um transtorno que afeta tanto o comportamento das crianças. "No começo, muitas vezes eu ia embora chorando, queria desistir e a escola nunca deixou. E graças a Deus hoje eu vejo como foi bom não ter desistido porque a minha filha cresceu muito e a gente chora de alegria", relata Gisli Garcia.

E tantos avanços no tratamento dessas crianças têm uma explicação. Segundo a musicoterapeuta Mara Magalhães, a música ajuda a desenvolver comportamentos afetados pelo transtorno. "Ela estimula a linguagem, estimula o campo emocional, o contato social. Então através do som, do movimento, você consegue mobilizar a mente, a emoção e o contato entre as pessoas".

Resultados que nem precisam de comprovação científica. Na alegria das três crianças dá para ver que a parceria do Amas com o Projeto Guri vai dar certo.




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